Observar o mundo e observar o que me rodeia, faz parte da minha forma de estar. Gosto de ver como as pessoas se movem, como agem, de ver como se relacionam. Gosto de absorver as suas energias, pois elas fazem-me integrar a beleza do que existe e inspiram-me. Recentemente em conversa sobre viagens com uma amiga, ela dizia-me que ir a uma cidade e não visitar os museus é um crime. Eu acho exactamente o oposto. A vida viva e pulsante está na rua. Está em todos os locais onde se encontram as pessoas mais comuns. Gosto de aprender com elas! Não tenho nada contra os museus. E no caso de haver um, ou alguma exposição que me atraia, é claro que irei visita-los. E fico grata pelo meu marido compartilhar do mesmo sentimento. Quando viajamos, andamos sempre muito a pé pelas ruas dos locais que visitamos. “Andar sempre muito” é capaz de ficar aquém daquilo que fazemos, pois por vezes, o registo é de algumas poucas dezenas de km diários…
Quando andamos a pé no meio de outras pessoas, e se o fazemos com atenção, começamos a observar de forma mais profunda a forma como lidam com o que as rodeia. Há aquelas que estão de bem com a vida. Há aquelas que estão mal com o mundo. Há as apaixonadas. Há as zangadas. Há as que estão no mundo da lua. Há as que sofrem. Há as que ajudam. Há as que ignoram. Há um mundo de sentimentos e vivências. E tudo está correto. Cada um a seu ritmo avança no seu caminho de vida.
O importante não é julgar o comportamento dos outros, nem tão pouco o nosso. Nada disso! O importante é aceitar o que há, e ama-lo tal e qual como se apresenta; livre de julgamentos. O amor é uma energia pura e amar deverá ser também.
Eu não devo amar uma determinada situação, só porque me é mais favorável. Nem tão pouco amar algo, só porque está na moda, ou é mais valorizado pela sociedade. E muito menos amar para obter algum reconhecimento.
O verdadeiro amor, aquele amor mais vulgar, é aquele que ama os defeitos do outro sem os querer mudar. É aquele que ama as mais singelas coisas e é capaz de ver mais além daquilo que elas mostram. E ver mais além significa ver a sua essência, aquilo que está por baixo da camada visível, exterior.
Amar o que se apresenta belo ao primeiro impacto é fácil. Amar aquilo que é defeituoso já é um pouco mais desafiante. Mas se formos capazes de nos amarmos em todos os nossos defeitos, em todas as coisas que gostamos menos, ou não gostamos de todo, iremos conseguir amar o mundo tal e qual como ele é.
É um trabalho interior que requer persistência, paciência e dedicação. Sim, porque isto de olhar para dentro e reconhecer que existe um lado sombra (aquilo que não gostamos em nós e que escondemos dos outros) consegue ser por vezes aterrador. E conseguir transformar essa sombra em aceitação e depois amor… dá trabalho!
A verdade é que a partir do momento em que o fazemos, a nossa relação com o ser que vive ao nosso lado, com a sociedade que nos envolve, com o continente que habitamos e com este planeta onde vivemos, transforma-se. O julgamento é desfeito; a aceitação acontece e o amor manifesta-se, puro e transparente.
O amor é assim como um ser que cresce. Começamos por desenvolver o amor em nós e essa energia espalha-se ao nosso redor. Primeiro começamos por prestar mais atenção aos pequenos detalhes e a amá-los. Depois o circulo vai aumentando e a atenção espalha-se a uma dimensão maior e continuamos a amar ainda mais. E o amor é assim mesmo, um crescendo de energia que se revela cada vez maior e se transforma em amor incondicional, em amor maior.
Recorda que o amor, assim como tudo na vida, é algo que quanto mais tu dás, mais recebes. Quanto mais te aceitas, mais aceitas o que te rodeia. Amor e aceitação andam muito de “mãos dadas”.
E numa época em que se fala cada vez mais na importância do amor incondicional, do amor maior, o primeiro passo a dar é reconhecer e praticar o amor vulgar em cada um dos pequenos detalhes que a vida nos apresenta. Quando praticamos um amor vulgar, um amor comum, facilmente chegamos ao amor maior – o amor incondicional.
Agradeço a tua presença aqui, desejando-te um dia pleno de amor e oferecendo-te uma música que fala deste amor vulgar, “Ordinary love” (dos U2). “Somos fortes o suficiente para o amor vulgar?”
Teresa
Gratidão pela imagem: @fcornish