Um passo atrás e muitos em frente

Já te contei num outro post que tenho 4 filhos e que a última criança nasceu, como costumo dizer em tom de brincadeira, mas com muito amor, nasceu “fora de rota”. Nasceu numa altura em que eu considerava já não ser possível engravidar novamente, nem tão pouco fazia parte dos meus planos, e dos nossos planos enquanto família, aumentar a nossa “árvore” e termos mais um ser a crescer connosco.

A verdade é que esta criança, enquanto ser especial que é, e como tantos outros que têm nascido actualmente, nasceu com uma vibração e registo muito especiais e diferente da dos irmãos. Ela sabe muito bem o que quer. Tem uma capacidade amorosa enorme de nos moldar e mudar a nossa forma de amar e de interagirmos com ela. Com ela tudo é uma constante dança, cujos passos e ritmos nem sempre conhecemos. E eu que achava que ao quarto filho já sabia todos os passos da dança de cor, dou por mim a observa-la e a aprender novos passos. Ela cresce connosco, e nós crescemos com ela, e muito!

Há pouco tempo passámos pela fase do começar a deixar a chucha. Os 3 anos estavam a chegar, a maturidade emocional propiciava-se, já para não falar daquela questão dos dentes ficarem direitos ou não e lá demos inicio ao processo de libertarmos uma a uma, as 4 chuchas existentes (sim, 4!!!). Correu tudo muito bem com as 3 primeiras. Quando chegou à quarta chucha, foi a própria Clarinha que decidiu oferecer a sua última chucha. Ainda em Nova York quis oferecer a chucha a um esquilo. Sim! Os esquilos também precisam de chuchas para os bebés deles(!) – O universo da imaginação e criatividade infantil é uma verdadeira delícia. Mas como tínhamos uma longa viagem nocturna de avião pela frente, não a incentivei e desviei o foco. A verdade é que quando chegámos a Lisboa, no final dessa semana, ela decidida que estava em oferecer a sua chucha, um dia de manhã assim do nada, tomou a iniciativa de a oferecer a um bebé do berçário no colégio que frequenta. É claro que, como forma de prevenção, a chucha foi-me devolvida, sem que ela soubesse.

Correu tudo muito bem na primeira noite. Melhor do que aquilo que eu esperava. Mas(!), com o passar dos dias a Clarinha começou a ter dificuldade em dormir à noite, e em momentos de aflição/cansaço tinha tendência a colocar na boca os dedos, ou a primeira coisa que estivesse à mão. Pois é, deu para perceber que a coisa não estava a resultar. E apesar de ter sido iniciativa própria, a verdade é que ela não estava a conseguir lidar com a situação. Se o jet lag teve influência neste processo? Talvez…, não sei e não é importante.

A chucha é uma forma de consolo. É um pacificador (os ingleses têm uma palavra fantástica para a chucha – “pacifier”). É algo a que um bebé recorre para conseguir um consolo imediato. E quando esse algo falta, há tendência para ser substituído por outra coisa.

Connosco adultos é igual. Não usamos a chucha “física”, mas temos outro tipo de “chuchas”; temos os nossos recursos para nos acalmarmos. Uns mais saudáveis que outros, é verdade, mas não é abordar este assunto o tópico principal deste post. O que eu quero sobressair, é que a chucha é como uma forma de adição; é assim uma espécie de vicio tipo tábua de salvação para consolo imediato. E quando é retirada a uma criança que não está preparada emocionalmente para o fazer, é estar a criar espaço para que seja substituída por outra coisa. Ou seja, o objectivo de “largar a chucha” não está a ser cumprido de forma saudável. Passa-se então a funcionar em modo carrossel e andar às voltas sem sair do mesmo sítio, criando espaço para que no futuro o adolescente, ou o adulto vá procurar modos de consolo, muitas vezes em forma de vicio.

Uma vez ouvi de uma “coacher” que quando há tendência para se ter um vicio, ou se consegue cura-lo na sua base emocional, ou haverá sempre a necessidade de o substituir por um novo vicio. Na altura deixou-me a pensar, mas na realidade cada vez mais acho que ela tem razão.

Hoje em dia a Clarinha voltou a ter chucha, mas na condição de ser só para dormir na cama. É importante (muito!) reconhecer quando algo não funciona e ter clareza para fazer a escolha de dar um passo atrás, para depois podermos dar muitos mais em frente, de forma sólida e consistente. E esta é uma atitude muito presente em variadíssimos assuntos nas nossas vidas. Se com consciência tivermos a clareza de ver o que não está bem, e com uma atitude flexível tomarmos os devidos passos, a dança da vida será muito mais fluída. Um passo para trás, dois para o lado, alguns em frente, e a dança será harmoniosa.

Ao seu ritmo, a Clarinha está a desenvolver as suas capacidades emocionais, que são vastas e preciosas, mantendo o foco na importância de criar independência suficiente para libertar a chucha. E assim, sem forçar, sem impor ritmos exigentes, eu acredito que ela será muito mais feliz.

Cada ser é único. Cada ser tem o seu próprio ritmo. Dancemos a dança da vida num ritmo alegre, descontraído e sobretudo fluido.

Termino desejando-te um dia maravilhoso com um proverbio chinês: “Sê como um bambu; Flexível mas mantendo as raízes sólidas.”

Grata pela tua leitura.

Teresa

Gratidão pela imagem:

2 thoughts on “Um passo atrás e muitos em frente

  1. Lindo, lindo, lindo! Foi o post que mais me tocou! Que sábia esta história que podemos utilizar no dia a dia.
    Há muitos, mesmo muitos anos atrás eu era uma pessoa inflexível. Mais tarde inventei um provérbio:” Os princípios foram feitos para serem quebrados”. Claro que hoje sei que a flexibilidade é tão importante! O adaptarmo-nos e aceitarmos as situações como elas são é essencial.
    E então este provérbio chinês dos bambus é de uma sabedoria que mesmo só os asiáticos a conhecem!
    Talvez esta história me tenha tocado ainda mais, porque passei 8 dias a trabalhar com um grupo de alemães com 9 crianças e tive de me adaptar a elas e elas a mim. Não foi nada fácil. O grupo era heterogéneo cheio de individualistas, mas a energia das crianças quando estão felizes é tão boa que abracei completamente todas as brincadeiras que pude fazer com elas. E vou contar rapidamente um exemplo da minha atual flexibilidade. Na 4f o grupo foi para o Algarve e eu encantada a pensar que eles iriam adorar a meia praia de Lagos, que iríamos fazer castelos na areia e brincar na água salgada. Quando chegamos a água estava gelada e turva. Quase todos acharam que era preferível ir para a piscina. Fiquei desapontada e triste. Eu tomo banho com a água a 16 graus sem problemas. Mas pensei que realmente para quem não está habituado não dá prazer.
    Então saí da praia e fui ver a piscina. Os miúdos insistiram para eu entrar e eu lá fui.
    Conclusão : passei mais tempo dentro da piscina na 4f e na 6f do que em toda a minha vida!
    Sempre achei um disparate ir para a piscina num hotel com uma praia em frente. Com as marés vivas que chegaram na 5f não houve hipótese e cheguei à conclusão que a piscina não é assim tão horrível como eu pensava! Brincamos tanto e rimos muuuuuito. E estava a precisar! De rir!

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    1. Grata Lena pela tua partilha fantástica!!! Fico muito sensibilizada por estes comentários. E é tão bom partilha-los. Beijinhos 💛☀️

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